terça-feira, 10 de novembro de 2009

Não tenho nome

1, 2, 3 eram as palavras de bom dia da professora. As crianças não tinham nome, nem história. Ao final da aula, elas respondiam a uma voz que gritava números seqüenciais – e era a chamada.
Só descobri que se tratava de uma aula de matemática quando a professora desenhou com o giz branco quatro equações que era a única coisa que tinha nome naquele espaço quadrado – equação biquadrada.
Olhares dispersos em direção a um mundo onde falavam minha língua materna. 1, 2, 3... Calem a boca. A linguagem inacessível da biquadradice era a língua de prestígio, contudo era a menos querida e compreendida.
Aquelas quatro equações tinham hora para uma solução. Trinta minutos era o tempo decidido pela professora biquadrada. Zero era algo que receberia quem não entendesse a solução da biquadrada.
Naquele espaço frio, a arte era proibida. Desenhos não tocavam as paredes, nem os pátios.
O sinal que doía os ouvidos gritava. Todos tinham um rumo em direção a batuta do professor.

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