sexta-feira, 23 de março de 2012

Ausência
da intensa vivência dos acasos num país estrangeiro
a escrever imprecisões de sensações tocadas
jamais compreendidas
mas agora não mais sentidas
tampouco esquecidas

27/04/09
Para o pequeno Caetano

Acorda, sorri para o mundo.
Já se pendura no chiqueirinho
tudo isso para dar um Bom Dia.

Vive a vida
Não tem medo,
nem maldade.

Vejo-o de longe.
Não posso tocá-lo.
(...)
mas sinto que já faz parte de mim.

minha riqueza

Alguns livros,
e casacos pendurados.
Uma cama encostada na parede,
uma torneira de água fria,
um espelho achado no lixo da rua.
três lâmpadas
(e nenhuma delas está no teto).

Uma mala de viagem vazia esperando uma volta
Eu piso num chão vermelho envelhecido,
marcas que carimbam passagens de várias vidas.
Desde 1900 esse prédio abriga famílias nos andares confortáveis.
bem como empregadas, estudantes e estrangeiros no sótão quente e frio.
Tenho um rádio sem antena,
que nunca tocou pra mim.

Na parede de cortiça tenho fotos afixadas para chorar a ausência daqueles que me amam.
São sorrisos que fazem minha felicidade maior.

04/12/08

uma história

O outono dos poetas passa-se aqui. Agora posso ser a personagem de Balzac, Flaubert. Baudelaire, Duras...
As flores do mal do poeta maldito eu vejo todos os dias pelas ruas de Paris.
Eu tenho uma janela para o mundo (daqui posso ver cenas de família que tenho saudade).
Solidão!
Escuto minha própria respiração.
O silêncio faz medo em mim.
Mas é a prova da minha existência.
Agora vejo que não tenho papel para fazer nenhuma personagem.
Tenho uma história minha, só minha.
Ninguém mais conhece.
Só eu.

Algum Lugar

Café com leite;
baguete tradição com manteiga.

Só de pensar que a noite é minha,
subo sete lances de escadas com prazer;

Caminho pelos bulevares sem rumo,
o Rio Sena é minha travessia.
o Arco que fica na esquina de casa não triunfa tanto.
Meu brinquedo de infância é maior que isso.

A Torre Eiffel brilha à noite,
encanta-me,
mas eu não existo pra ela.

No Champs Elysées eu não compro nada,
pois meu luxo não está à venda.

Minas Gerais vale ouro:
Feijão, farinha, mandioca, doce-de-leite, pé-de-moleque...
estão longe daqui.

A língua de lá me dá mais aconchego;
a língua daqui fecha minha boca,
e faz calar minha alegria.

(...)
Mas é aqui que percebi as coisas simples de lá...
Desenhos de guerra.

Sentada na cadeira da sala de jantar, uma criança de apenas sete anos cria desenhos de guerra. Ela pede ajuda. Não tenho nenhuma reação. Tento fazer e não consigo. Como para apontar minha falta de criação, ele ria da cena de guerra que eu tentava colorir. "Incapaz eu sou" - pensei comigo. Essa criança sai da escola todos os dia com um desenho novo do mesmo tema: A GUERRA. Ele quer um álbum para colecionar todos eles.
Fui colonizada. A guerra não existe em mim, mas para essa criança européia ela está presente como uma cena banal...

18/09/08
Um homem pergunta se o metrô vai em direçao à Ópera. A menina estava lá para lhe responder. Vestido de hippie, cabelos compridos bem lavados, sandália nos pés e um relógio no pulso. "Sim, este vai para a Ópera", respondeu a moça. Ela imagina un tanto de coisas: "Porque estes pés inquietos? Da onde esse homem veio? Não é francês, pois tem sotaque estrangeiro." O homem senta no banco e olha a hora por um minuto. "Ele teme estar atrasado ou aprecia o tempo que não passa?". De dentro dele saía um som de fatiga, de fim de tarde., mas ainda era uma e quinze da tarde.


16/09/08