quinta-feira, 19 de novembro de 2009

La Redécouverte, de Yann Tiersen

http://www.youtube.com/watch?v=iokY7XBUjyQ&feature=related

C'est mignon ça.

Observações

Ainda que meu quarto seja um ambiente absolutamente escuro, fecho os olhos para dormir.

Observando uma pessoa sentada, no escuro, frente à tela de um computador ligado, noto que seu rosto fica azul.

No verão, descubro às vezes uma formiga, ou uma mosca, passeando sobre minhas roupas.

Depois de tomar um banho, posso escrever meu nome sobre o espelho do banheiro.

Quando cruzo as pernas embaixo da mesa, às vezes bato com o joelho.

Posso produzir um barulho notável se continuo a sugar com o canudinho o líquido que resta no fundo de um copo.

Nathalie Quintane (France) in Inimigo Rumor, tradução de Carlito Azevedo

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Saudade

Para meu avô
Primeiro dia de aula e o professor não veio.
Entro na biblioteca: estante brasileira.
Livro: "Estrela da Vida Inteira"
Saudade dos elementos mais cotidianos colocados na escrita,
da pureza na fala do poeta,
dos seus versos de língua do povo.
Lendo "Profundamente" lembro do meu avô.
Ele adormeceu para todos os dias.
Mas a história da Coquinha ficou como um presente de infância.
A rua da Saudade agora tem um sentido outro.
Quando era criança achava bonito o nome dessa rua.
Agora não sei mais...
Vô Zé, Rio Claro foi sua melhor travessia.
Você faz saudade em mim e sei que vai continuar dormindo profundamente.

Não tenho nome

1, 2, 3 eram as palavras de bom dia da professora. As crianças não tinham nome, nem história. Ao final da aula, elas respondiam a uma voz que gritava números seqüenciais – e era a chamada.
Só descobri que se tratava de uma aula de matemática quando a professora desenhou com o giz branco quatro equações que era a única coisa que tinha nome naquele espaço quadrado – equação biquadrada.
Olhares dispersos em direção a um mundo onde falavam minha língua materna. 1, 2, 3... Calem a boca. A linguagem inacessível da biquadradice era a língua de prestígio, contudo era a menos querida e compreendida.
Aquelas quatro equações tinham hora para uma solução. Trinta minutos era o tempo decidido pela professora biquadrada. Zero era algo que receberia quem não entendesse a solução da biquadrada.
Naquele espaço frio, a arte era proibida. Desenhos não tocavam as paredes, nem os pátios.
O sinal que doía os ouvidos gritava. Todos tinham um rumo em direção a batuta do professor.